Páginas

domingo, 13 de novembro de 2011

ESPECIAL: UM AMIGO NO POÇO DAS ARIRANHAS

                                                                Por Moisés M Monteiro


Capa da revista Manchete, de 17 de setembro de 1977 que
trouxe a reportagem com o título "Um Herói no Poço
das Ariranhas".

     Entre 1972 e 1975, eu cursava o primário numa escola no bairro de Neves, município de São Gonçalo, Rio de Janeiro. Na época, o Grupo Escolar Melchíades Picanço. Ali, fiz amizades que duram até hoje: Ângelo, Elson, Clevinho, Maria Stael, Edgard, Ronald, Tula, Celi Mendonça e tantos outros.

   Um desses amigos que conheci por volta de 1973 era um garotinho mineiro, chamado Adilson Florêncio da Costa, de nove anos, que morava na Lira uma localidade ali de Neves. Ele tinha um sotaque bastante forte e eu achava engraçado quando, numa conversa, Adilson falava a palavra carne. ele dizia, mais ou menos, assim: “cairne”! Era um amigo legal, quietinho, quietinho, muito gente boa!
   Certo dia, Adilson chegou dizendo que iria embora com a família. E foi mesmo. Morar em Brasília. Desde então, não nos vimos mais. Tempos depois, tive notícias dele, e de uma forma bastante surpreendente.
   Meu pai, Aluisio, comprava toda semana uma edição da revista Manchete. Todo mundo lia a Manchete como, hoje, lêem a Veja. Só que a revista do Grupo Bloch fazia muito mais sucesso.
   Eu gostava de ler a Manchete e numa dessas vezes ao folhear uma edição de setembro de 1977, dei de cara com uma matéria com o título "Um Herói no Poço das Ariranhas". Na reportagem, uma foto do meu amigo Adilson envolto em bandagens em cima de uma cama de hospital. Ao lado, outra foto, de um homem que o havia salvo de um ataque no poço das Ariranhas, ocorrido dentro do zoológico de Brasília, num sábado, 27 de agosto daquele ano: o sargento do exército Sílvio Delmar Hollenbach. O caso repercutiu muito na época, principalmente, em Brasília.
   Testemunhas contaram que Adilson - então com 13 anos - e alguns amigos brincavam perigosamente junto a uma grade que separava os visitantes do poço das Ariranhas; um animal da família das lontras que mantêm uma boa relação social entre si e defendem com muita ferocidade o seu território. Ele se desequilibrou, caiu lá dentro e sua presença ali deve ter sido interpretada pela mãe ariranha como uma ameaça aos seus filhotes. Adilson foi atacado e se não fosse a intervenção heróica do Sargento Sílvio Hollenbach, não estaria vivo hoje. Mas o ato heróico do militar custou-lhe a vida, três dias depois. No momento em que começou o ataque, ele estava se dirigindo ao carro com a família para ir embora, quando ouviu os gritos de Adilson. Tornou-se um herói. Sua bravura foi reverenciada até mesmo pelo Presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que enviou um telegrama de pêsames à família.

  A reportagem da revista Manchete contou que Adilson declarou aos repórteres no hospital que pretendia oferecer ao sargento uma grande festa em sua homenagem. Não sabia, porém, naquele momento que Sílvio Hollenbach não havia resistido aos ferimentos.

À direita.: Adilson na cama do hospital após o ataque. Na foto menor, à esquerda,
o sargento Sílvio Delmar Hollenbach que o salvou mas, infelizmente, não resistiu
aos ferimentos três dias depois. Reportagem de AYRTON CENTENO.
Fotos de CLÁUDIO ALVES e Correio Braziliense.
Revista Manchete / 17.09.1977. Págs. 26B e 26C.


Revista Manchete / 17.09.1977 - pág. 26D.
Busto do sargento Sílvio Delmar
Hollenbach, na entrada do Jardim
Zoológico de Brasília.
   Naquele ano, 1977, a turma que se formou na Escola de Sargentos das Armas, recebeu o seu nome. Mais recentemente, o zoológico de Brasília também recebeu o nome do sargento Sílvio Delmar Hollenbach, em sua homenagem. 
   Adilson, hoje, continua morando em Brasília e é funcionário dos Correios. Não gosta de falar sobre o assunto. É um direito que tem. Mas essa posição não é compreendida por todos.
    Seja como for, o trauma causado por uma experiência como aquela vivida por ele, aos 13 anos, certamente o marcou profundamente.
   Um fato curioso, ainda, relacionado a essa história toda aconteceu comigo há alguns anos atrás - se não me falha a memória, entre de 2004 e 2006, Wanda, avó do meu afilhado Thales, ligou pra minha casa e disse a Melinha que estava ajudando o neto com uma pesquisa escolar sobre um tema do seu livro envolvendo um animal chamado ariranha. Perguntou a Melinha sobre esse animal e contou que no livro de escola de Thales era apresentada a história de um menino que havia caído num poço cheio delas. A história enaltecia a bravura de um homem que havia salvo o garoto. Pois bem, Melinha disse a Wanda que aquele menino era um amigo meu de escola e contou-lhe a história. Wanda surpreendeu-se.
Ariranha: mamífero carnívoro da família das lontras.

40 comentários:

  1. pois é, o seu amigo tem o direito de nao falar sobre isso, mas que tivesse ao menos o bom senso de agradecer a familia do seu heroi.

    Pois devido ao seu comportamento estupido (de brincar em local perigoso), um pai de familia (com 4 filhos pequenos), perdeu a vida ao salva-lo da sua propria estupidez.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Anônimo

      Sua opinião sobre o assunto merece todo respeito. Obrigado por se manifestar e, sinceramente, lamento por todas as pessoas que foram atingidas por esse trágico acontecimento.

      Excluir
  2. Adilson foi um amigo que tive no Guará nos anos 70 e 80, jogamos muito futebol de golzinho com bola dente de leite, gente muito boa.

    ResponderExcluir
  3. Nunca me comovi tanto com uma tragedia.-Esse Homen tem o meu respeito..!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sílvio Delmar Hollenbach é um Herói! Obrigado por sua participação no Blog, Daniele! Um abraço! Moisés.

      Excluir
  4. Estranhamente, nunca antes tive conhecimento deste fato ocorrido no Zoológico de Brasília, bem como nunca havia ouvido falar do SG Silvio Delmar Hollembach. Agora, sei também que há ruas em diversas cidades do País com o nome desse valoroso militar, inclusive no Rio de Janeiro (onde nasci e cresci) e no Recife (vizinha de Olinda, onde moro atualmente).
    Parabéns pela matéria e pelo blog!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Marcos Roberto! Seja sempre bem-vindo! Um abraço. Moisés.

      Excluir
  5. Arriscar a própria vida abnegadamente para salvar outro ser humano que sequer conhece é um ato extremamente nobre e altruístico. Chamamos de herói pela falta de uma palavra melhor, mas é mais do que isso.

    Parabéns pelo seu exemplo Sr. Sílvio Delmar Hollenbach. Seu ato sempre será lembrado em nossos corações, nos inspirando a sermos sempre pessoas melhores.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado por participar do Blog com o seu comentário, Beto. Seja, também, muito bem-vindo! Um abraço. Moisés.

      Excluir
  6. Definitivamente um ato assim com o próximo não é qualquer um que tem,mas esse sargente fez valer o primeiro mandamento da palavra de Deus."Amar a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo"e isso é maravilhoso e muito digno.Mesmo sem conhece-lo demonstrou tamanho amor,que talvez nem mesmo um da família teria feito.Parabéns pelo Blog Moisés!Nome abençoado.

    ResponderExcluir
  7. Oi eu fiquei chocada quando li esta historia muito triste

    ResponderExcluir
  8. Eu encontrei essa história pesquisando o Cemitério da Areia Branca de Santos no site Find a Grave, e decidi pesquisar um pouco a mais sobre essa história de heroísmo. Incrível. O instinto de salvar uma vida de uma criança impediu o Sargento de calcular o perigo e consequências desse ato. O menino, hoje um senhor graças a bravura desse soldado , vai carregar para sempre a imagem e a história do ocorrido. Mas não pode ser culpado, afinal, crianças costumam ser rebeldes e ignorar placas de aviso. Felizmente, temos a esperança da ressurreição. Tenho convicção que nosso Deus se lembrará de uma pessoa que deu a vida em troca de uma criança.

    Postado por Anônimo no blog BLOG DO MOISÉS, originalmente, em 25 de abril de 2014 17:26

    Publicado em 25 de abril de 2014 20:39

    ResponderExcluir
  9. Cresci tendo esse militar como um dos meus maiores Heróis. Mais tarde, me tornei militar e tive a honra de ser um Sargento, também. Sempre o tive como mais do que um Herói, um exemplo. Hoje, falando sobre a tragédia envolvendo um menino e o tigre Uh no zoo de Cascavel, citei esse fato e, pesquisando, encontrei seu excelente blog. Parabéns ! Fica a memória do heroísmo, vigiem-se as crianças (digo isso porque só eu sei o que eu "aprontava" longe das vistas dos meus pais. Só Deus pra me guardar), e que os zoos sejam mais precavidos. O acesso à jaula de animais perigosos deve ser literalmente impossível (soluções e recursos é que não faltam).

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Como vai, Paulo?
      É bom saber que o ato de heroísmo de Sílvio Delmar Hollenbach inspirou militares com a sua excelência profissional e humana. Suas observações demonstram a preocupação que você tem com o próximo. Quem deve ser parabenizado é você! Seja muito bem-vindo ao Blog! Um grande abraço. Moisés.

      Excluir
  10. Nossa! Acabei de me lembrar dessa história e estava procurando, achei nesse blog... Essa história tinha no meu livro de Educação Moral e Cívica quando eu era criança. Nunca mais me esqueci dela...

    ResponderExcluir
  11. Eu e o Adilson éramos amigos e jogamos muita bola juntos no Guará 1 nessa época do ocorrido.
    Ele morava na QI 7 e eu na QI 11.
    Quando isso aconteceu , eu tinha 11 anos e fiquei muito chocado com os ferimentos dele, e principalmente com a morte do Sargento Herói que o salvou.
    Depois do acidente, o Adilson ficou muito mudado com a gente, e raramente, ele vinha brincar com a gente, por causa de todas as cicatrizes que ficaram sobre o seu corpo.
    Passado 4 anos, mudei do Guará, para Uberlândia MG e nunca mais tive contato com ele.
    O tempo e as Lembranças dessa época, voltaram claramente em minha memória, com esse blog.
    Parabéns

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Como vai, Alexandre?
      Olhe, você enviou outra mensagem perguntando se eu havia morado no Guará 1, não foi? Não. Eu não morei lá. Adilson e eu estudamos juntos no primário. Desde que saiu do Rio para morar em Brasília, nunca mais o vi. Nunca mais nos falamos.

      Excluir
  12. Escuto essa história desde criança. Somente hoje entendi como tudo aconteceu, parabéns pela matéria. Só tenho muita curiosidade de escutar o Adilson, tendo em vista que nunca se manifestou.

    ResponderExcluir
  13. Desculpe.Mas. O Adilson deu defeito.... 😞. http://m.oantagonista.com/posts/pf-prendeu-ex-diretor-do-postalis

    ResponderExcluir
  14. E hoje, 24/06/2016, o garoto traquina, cuja vida custou a vida de outra pessoa, foi PRESO pela Polícia Federal acusado de desviar recursos do Postalis (Instituto de Seguridade Social dos Correios e Telegráfos).

    ResponderExcluir
  15. E o menino Adilson cresceu e hoje, 24 de julho de 2016, foi preso pela Polícia Federal, suspeito de corrupção como diretor da Postalis - o instituto de previdência dos funcionários dos Correios. http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/sem-categoria/o-inicio-e-o-fim-de-uma-das-historias-mais-famosas-de-brasilia/

    ResponderExcluir
  16. Hoje pelo que consta na imprensa (24/06/2016), essa vítima que foi salva por esse inesquecível herói, está entre os investigados que tiveram a prisão decretada pela operação da Policia Federal - Petros e Postalis: o ex-diretor financeiro do Postalis, Adilson Florêncio da Costa, e os então sócios do Grupo Galileo, Márcio André Mendes Costa e Ricardo Andrade Magro.

    ResponderExcluir
  17. Esse menino está preso acusado de integrar um esquema de corrupção envolvendo desvio bilionário de dinheiro dos fundos de pensão Petros, da Petrobras, e Postalis, dos Correios..... será que o sacrifício do Sargento valeu a pena?

    ResponderExcluir
  18. Adilson gente muuuuuuito boa....O Postalis que o diga!

    ResponderExcluir
  19. q irônico um policia deu a sua vida, para salva de um bandido que se tornou o garotinho, um homem formado de bem, e um garotinho ingrato que se tornou mas tarde um bandido, ladrão, lamentável essa troca, que mesmo garoto era um delinquente, irresponsável, brincando com perigo quando caiu no poço, e um cara de bem deu sua vida, para salvar de outro pelo erro inconsequente q cometeu, lamentável lamentável mesmo.

    ResponderExcluir
  20. DE NADA VALEU SER SALVO, O SARGENTO DELMAR, PERDEU A VIDA, E O ADILSON FLORÊNCIO DA COSTA, PERDEU A DIGNIDADE . UMA LÁSTIMA, ELE DEVERIA SEMPRE PENSAR, QUE ELE TEVE MAIS UMA CHANCE , E NÃO SOUBE APROVEITAR . ALÉM DE TUDO É UM INGRATO.

    ResponderExcluir
  21. Bandido, corrupto. Lamentamos muito pela familia do militar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo este garoto na verdade é hoje um mendigo espiritual, não recebeu educação familiar de gratidão, respeito,enfim lamentável.
      vera lucia p c souza

      Excluir
  22. Dizer: Muito Obrigada!!! Sentir Gratidão!! É educação de casa, na Escola você aprende conteúdos diversos, pode até aprender ser gentil mas repito esta é uma obrigação dos Pais que devem Educar seus Filhos moralmente.
    Garoto sem sorte pois tudo que ganhou perdeu.Não recebeu educação para valorizar as situações humanas.

    ResponderExcluir
  23. O Delmar é um herói. Bela história.

    ResponderExcluir
  24. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2016/06/25/interna_cidadesdf,537827/mulher-chorou-ao-saber-da-prisao-do-homem-que-o-marido-salvou-das-arir.shtml?ref=yfp

    Tá aí uma informação sobre o perfil da vítima que mesmo após tantos anos, nunca teve a dignidade para agradecer. Lamento muito que um homem de bem tenha morrido, deixado viuva e filhos sem o devido amparo emocional, para salvar a vida de uma pessoa que um dia estaria envolvida em atos vergonhosos para nosso país. Lamentável.

    ResponderExcluir
  25. Em que pese sua amizade com o travesso Adilson, meu sentimento é o de que um homem bom morreu em vão. Melhor seria ter deixado o Adilson à própria sorte, assumindo as consequências de sua traquinagem, do que perecer por alguém que não valeu a pena. Teríamos um herói a menos,é verdade, mas um corrupto a menos também. Pelo menos para compensar a falta que sua travessura causou na família do Sargento Delmar, esse inconsequente do Adilson tinha a obrigação de ser uma pessoa do bem, e não um mau caráter.

    ResponderExcluir
  26. Nasci em Brasília em 63 e nunca me esqueci deste caso, porque marcou toda minha geração! Não conseguia entender como uma pessoa pode ser tão fria ao ponto de nunca agradecer a família de quem a salvou, mas hoje entendo, é uma questão de caráter, algo que pelo visto este Senhor Adilson nunca teve! Meu mais sincero respeito à memória do Sílvio Delmar Hollenbach e a sua família.

    ResponderExcluir
  27. Preso hoje por desvio de dinheiro dos aposentados. Esqueceu de agradecer a Deus e a família. Que triste. Delmar perdeu a vida para vida a um desonesto.

    ResponderExcluir
  28. Espero que não o considere mais um "amigo". Mostrou-se sem caráter a vida inteira, e agora mostra a sua verdadeira face a todo o mundo, não passa de um canalha.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, gostaria de esclarecer uma coisa: o Adilson que conheci e ao qual me refiro na postagem foi um amigo que tive no primário. Eu não conheci o "Adilson" no Postalis. E se ele prejudicou alguém é certo que deva pagar pelos seus erros diante da Justiça. Não sou eu que vou julgá-lo!

      Excluir